quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Uma Geração de Sobreviventes

Parte 1

O céu àquela hora da noite parecia um retrato fiel do que se passava no interior da mulher. Sentada à janela, um olhar vazio para o longe, contemplava as nuvens nubladas e fechadas, um anunciar de uma tempestade vindoura.
Fracamente, o quarto foi iluminado pela faísca de um fósforo. Com movimentos lentos e sem vontade, ela ascendeu um cigarro. Estava ali já há mais de uma hora. Enrolada num lençol e sentada na poltrona. Um copo do mais barato Scotch estava na mesa de centro. O rosto foi brevemente iluminado enquanto ela tragava o cigarro. Uma menina em corpo de mulher. Bonita, cabelos ruivos e olhos azuis. Pele muito clara. A expressão vazia, talvez a mais comum, encontrada nos últimos anos. A expressão de quem tentava sobreviver antes de viver.
Um relâmpago cortou o céu. E propiciou um breve relance do quarto. Desarrumado. Imundo. Roupas espalhadas pelo chão. Na cama, um homem dormia profundamente sem preocupação com o que se passava ao seu redor. O relógio da cabeceira não marcava hora alguma. O visor digital simplesmente escuro. Talvez quebrado ou sem bateria. O braço do homem pendia da lateral da cama e a seu lado um copo havia entornado seu conteúdo no carpete. Ninguém podia culpá-lo por não beber o desprezível uísque.
Era um quarto de ocasião. Alugado ao acaso para saciar a luxúria daquele homem. Ele se moveu preguiçosamente na cama enquanto ela buscava o copo na mesa de centro. Sem vontade alguma, ela deu um enorme trago no líquido e engoliu de uma só vez para senti-lo descer arranhando por toda sua garganta. Como se quisesse provar a si mesma que estava viva. Em seguida, uma tragada longa no cigarro, até engasgar com a fumaça. Eram somente algumas das formas que ela tinha de se agredir.
Voltou os olhos mais uma vez para o céu, como procurando as respostas para o enigma da vida, vasculhando na imensidão infinita do horizonte por uma resposta que fosse simples e ao mesmo tempo satisfatória.
Outro trovão ribombou ruidosamente. A mulher o ignorou. O homem mexeu e resmungou na cama. Não acordaria tão cedo. Por ela, ele não acordaria nunca mais. Um barulho diferente a atraiu, através da janela, dez andares a baixo de onde ela estava. Levantou deixando o copo cair no chão acarpetado do quarto. Não quebrou. Homens uniformizados e armas em punha saltavam da traseira de um veículo enorme. Ficaram em posição aguardando até o último deles sair. O único que não empunhava armas, o comandante daquela equipe, certamente. Os movimentos rápidos e coordenados não demoraram mais do que trinta segundos, eles já entravam no prédio de apartamentos.
Ela sabia exatamente o motivo daquilo tudo. Não esperou que entrassem, já sabia qual era a intenção deles. Rapidamente juntou e vestiu as roupas espalhadas pelo chão. Não se deu ao trabalho de olhar para o homem da cama. Meteu a mão no bolso de trás da calça dele, que estava no pé da cama, e retirou a carteira. Nem se importava com quanto de dinheiro tinha, qualquer coisa era melhor que nada. As notas passaram da carteira pro bolso de sua calça. Bateu a porta atrás de si e desapareceu do quarto entre um trovão e outro.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Reboot, uma nova era surge sobre nós!

Depois de alguns anos (último post datava de 2007) entrei no blog pra ver como estava e foi uma total nostalgia reler coisas que nem lembrava mais terem acontecidos.
Resolvi então dar um revival no blog, tentando manter um compromisso maior entre as postagens e trazendo um material agradável para os possíveis leitores que eu venha a conquistar. Não vou atacar de forma muito ambiciosa ainda, vou devagar, mas a aspiração é de chegar longe.
O futuro só depende do que plantamos hoje. Então espero que boas coisas floresçam do que eu vier a colocar aqui.